Entrevista: Hocus Pocus

Hocus Pocus lança nova receita – a APA Cadabra – e pretende ainda produzir uma Imperial Stout. Amanhã eles estarão em evento  na Comuna, em Botafogo, quinta-feira no Bar do Momo, na Tijuca e domingo na Comuna novamente para o evento Junta Local. 

Por Amanda Henriques

A nova geração da cerveja carioca tem mais uma representante de peso: a Hocus Pocus! Essa semana eles lançam seu novo rótulo – a APA Cadabra – dando continuidade ao trabalho que começou com a Magic Trap – uma Belgian Golden Strong Ale.

Entrevistamos os cervejeiros por trás dessa magia negra. Apresentem-se:
Pedro Butelli: Somos eu, Pedro Butelli, e o Vinícius Kfuri, que acabou de deixar a vida no mercado financeiro pra trás para se dedicar 100% à Hocus Pocus. Eu ainda tenho um doutorado para terminar e sou professor da FGV, mas a ideia é fazer o mesmo.



Maria Cevada: Como foi o primeiro contato de vocês com a produção de cerveja? Quais foram as inspirações e influências da Hocus Pocus?


Pedro Butelli: Então, eu e o Vinícius nos conhecemos por um amigo em comum, o Bruno Coelho, quando este nos chamou para fazer o curso do Botto.  Fizemos o curso, compramos todos os equipamentos, e começamos a fazer cerveja praticamente todo fim de semana. Em dois anos fizemos mais de 70 levas, virou meio que um vício. “Meio que” não, virou um vício, ponto. Todo tempo livre ia para o estudo de alguma coisa relacionada a cerveja. Ficávamos horas por dia discutindo como melhorar nossas cervejas, como corrigir alguns off-flavors e melhorar técnicas e processos, estudando a composição química de maltes, lúpulos, técnicas de cultura de fermentos, enfim, essas conversas foram uma verdadeira faculdade para nós dois.

As inspirações da Hocus Pocus vêm sempre de coisas que nós gostamos e que tenham nos causado um impacto positivo, e nossa ideia é repassar as experiências boas que tivemos através das cervejas. Sem exceção, sempre são coisas que nós realmente gostemos e que tenham a ver com a gente. Não existe muita restrição, contanto que seja autêntico e que nós dois fiquemos realmente emocionados com a ideia. Geralmente isso acaba girando em torno de alguma coisa bem experimental, inovadora e técnica, características que a gente sempre tenta colocar nas nossas cervejas.

Um exemplo é a nossa 1ª filha, a Magic Trap, que foi influenciada por uma música de rock progressivo que deu nome à cervejaria. Essa música é de uma banda holandesa chamada Focus. O vocalista fez um show absurdo na TV em 1973, e toda aquela insanidade na performance e a paixão pelo que ele fazia passou pro nosso rótulo.  O 1º post na nossa página do facebook tem o vídeo desse momento aí que nos inspirou.


Maria Cevada: Vocês ganharam destaque em concursos de cervejas caseiras. Falem um pouco sobre o reconhecimento das receitas.


Pedro Butelli: O primeiro concurso que participamos foi da associação de cervejeiros caseiros de Niterói, em 2012. Foi uma Mild, um tipo de English Brown Ale que nunca tínhamos feito (nem provado!) antes, e acabamos ganhando o 1º lugar. Você tinha que ver nossa felicidade ao ouvir do Botto, nosso professor, o resultado. Foi ali que realmente pensamos em levar isso de cerveja a sério.

Depois disso, fizemos uma versão da Magic Trap com canela e ficamos em 2º lugar no Estadual da Acerva Carioca em 2013. Isso foi uma surpresa bem feliz, já que no estilo livre geralmente estamos ao lado de cervejas muito extremas, que chamam muita atenção, e a nossa foi simplesmente uma Belgian Golden Strong Ale com um certo “tempero”.

Ano passado ficamos em 1º lugar no Estilo Livre do Concurso Nacional das Acervas, o maior concurso de cervejas artesanais do Brasil. Estávamos no Mondial de la Bière quando recebemos a notícia, e o pessoal em volta não entendeu o porquê de estarmos comemorando rs.  Fizemos uma Imperial Stout de 14,5% ABV que utiliza 11 tipos de maltes diferentes, maturada com uma quantidade grande de grãos de café e nibs de cacau peruano, e adição de whisky Macallan 18 anos envelhecido em cubos de 2 tipos de carvalho diferentes por 4 meses. A cerveja chega a ficar mastigável, de tão pesado que é o corpo dela, e é uma das nossas preferidas.



Maria Cevada: Quando vocês começaram a amadurecer a ideia da Hocus Pocus? Onde produzem hoje? Quantos litros?


Pedro Butelli: Sempre tivemos esse sonho de ter uma cervejaria, mas parecia algo bem distante. Não sabíamos se nossas cervejas teriam aceitação suficiente para sustentar uma cervejaria, sabe? Quando ganhamos nosso 1º concurso de cervejas artesanais ficamos com essa ideia na cabeça e passamos a pensar mais seriamente nisso.

Fui morar um ano em Berkeley, entre 2013 e 2014, cercado de ótimas cervejarias, e a experiência por lá nos mostrou o que é possível se fazer com uma cerveja quando se junta conhecimento técnico, ingredientes frescos, e criatividade dentro de uma garrafinha.  Quando voltei fizemos um “intensivão” e abrimos CNPJ, corremos atrás de cervejarias para produzir, etc. Cheguei em junho e lançamos a Magic Trap no Botto Bar em setembro. Hoje em dia produzimos na Allegra e na Antuérpia, e estamos chegando nos 3000L mensais.


Maria Cevada: Magic Trap e APA Cadabra. Contem mais sobre os seus filhotes. Vale dizer qual é a preferida

Pedro Butelli: A Magic Trap foi a 1ª cerveja que lançamos comercialmente, em Setembro de 2014. É uma Belgian Golden Strong Ale com quase 9% ABV e com temperatura de fermentação controlada para gerar um aroma frutado bem forte, que é característico dela, para esconder esse álcool todo. A ideia é fazer uma cerveja alcoólica que tenha alta drinkability, algo tecnicamente difícil de se conseguir.

Já a APA Cadabra é a nossa 2ª cerveja, uma American Pale Ale que estamos lançando agora no início de fevereiro de 2015. Ela foi feita para proporcionar a maior quantidade possível de aroma e sabor de lúpulos americanos em uma única “sessão”, e para isso é necessário que seja possível beber mais de 2 ou 3 copos sem cair no chão. Por isso, é uma cerveja session inspirada em algumas das melhores IPAs e APAs que já provamos, ou seja, feita para se tomar várias dela enquanto se assiste um jogo, ouve umas músicas, ou conversa com os amigos em um bar, e sentir uma porrada de lúpulos no nariz e no paladar a cada gole. É bom avisar que ela é pra ser provada muito, muito fresca, então já adiantamos que ela não vai sair do RJ e que, se for engarrafada, vai ter distribuição beeeeem limitada.

Agora, complicado falar qual a minha preferida, viu? Acho que hoje eu diria que é a APA, pois conseguimos reproduzir a experiência que tivemos com algumas das melhores cervejas que já provamos, além do fato de que estou há dois dias sem bebê-la e já estou com saudade hahah. Se conheço bem o Vinícius, ele diria o mesmo.


Maria Cevada: O que está vindo por aí?


Pedro Butelli: Já temos algumas coisas preparadas para lançarmos ainda este ano. Queremos fazer a Imperial Stout que venceu o concurso nacional das Acervas, mas ainda não temos uma data programada de lançamento, já que ela precisa de bastante tempo de maturação.

Além disso, estamos trabalhando para oferecer a Magic Trap em garrafas, e já fechamos o estilo da nossa 3ª cerveja, só falta  fazer alguns experimentos para acertar os últimos ajustes na receita. O que eu posso adiantar é que nossa primeira cerveja, a Magic Trap, foi focada nos aromas gerados pelo fermento; a 2ª, a APA Cadabra, tem o lúpulo como personagem principal; e a 3ª será focada no outro ingrediente que faltou, o malte.

Maria Cevada: Para quem quiser conhecer o trabalho da Hocus Pocus, amanhã eles estarão no evento Junta Local na Comuna. Confira o evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/333119913557389/. Na quinta-feira eles estarão no Bar do Momo, na Tijuca.





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