Cervejas artesanais: as 8 maiores dificuldades para começar a beber

Por Amanda Henriques

Essa matéria é algo que gostaria de ter lido quando comecei a tomar cervejas especiais. Acho que seria mais fácil ter aderido ao hobby e levar o assunto mais a sério. Talvez a Maria Cevada tivesse mais tempo de existência e eu já teria conhecido mais pessoas incríveis que estão nesse universo das artesanais.

Não há verdades absolutas aqui, mas tem um pouquinho do que vivi, diluído em umas dicas que espero que gostem e os incentivem a embarcar nessa jornada entre lúpulos e maltes. 🙂


1. Seu amigo PARCEIRO resolve te mostrar que cervejas especiais são ótimas e lhe oferece uma IPA.

As IPAs são as queridinhas da galera cervejeira, mas fazer isso com o seu amigo novato é a MAIOR sacanagem. Ele [ou ela] vai achar que o mundo das artesanais é tão amargo quanto lúpulo, que seus amigos cervejeiros são malucos, e que pra gastar dinheiro com isso é melhor voltar pras cervejas comuns. Esse amargor das IPAs dificilmente é aceito de cara por quem está começando.
Para aqueles que gostaram logo na primeira vez, meus sinceros cumprimentos às suas papilas gustativas e bem-vindo ao seu planeta de origem. _\// Portanto, hopheads, nada de traumatizar o povo: na maioria dos outros casos, vai dar mais certo começar com estilos mais suaves, fáceis de beber como as weizen e ales mais adocicadas se quiser trazer o seu amigo para o lado bom da força.

Getty Images | DEA Pictures


2. Você sabe o que está tomando?
O pessoal convida pra ir no bar, você olha para a lista das torneiras, tem que escolher uma e sem critério… Vai pelo preço? Pelo país? Pelo nome mais esquisito?
Se estamos começando a aprender, como raios vamos saber qual escolher? Bem, o legal é não ter vergonha de perguntar pro amigo, pro garçom, pro Tio Google… E pesquisar. E experimentar.
Se você está chegando agora nesse mundo, vai ficar fascinado com a quantidade de estilos, suas peculiaridades, a história, seus sabores. É um assunto muito bacana de estudar a teoria e certamente um dos mais deliciosos de aprender na prática. 
Nessa jornada, o Untappd me ajudou bastante. É um aplicativo de cervejas que tem as informações básicas dos rótulos, os comentários de quem já tomou e permite que você faça check-in nas cervejas que já tomou, deixando ali suas impressões. [Eu deveria ganhar algo por essa propaganda…]
É bom conhecer de tudo um pouco e dar margem para erros também.


3. Cerveja boa é cerveja importada

Essa é uma das coisas que mais dói ouvir. Há marcas brasileiras incríveis, microcervejarias brasileiras com rótulos premiados, cervejeiros brasileiros extremamente competentes e a sua classificação de cerveja boa é “importada”? Não! Esquece isso. Não é porque a sua avó acha que toda palha de aço é Bombril que você vai cair nessa falácia repetida em progressão geométrica pelo mundo.

Aliás, começar pelas brasileiras é uma boa pro bolso!

Getty Images | Fumiaki Yamasaki


4. Dois latões por cinco: o dilema preço x quantidade
Sair do mundo do ‘dois-latão-É-5’* é complicado. E o maior problema nem é o preço em si, mas a relação entre a quantidade x preço. “Como assim, 330ml de cerveja por esse preço? Compro um pack com esse dinheiro”. Mas no mundo das artesanais o que importa não é beber muito, é beber com qualidade.

[Maaaaas se a intenção é justamente abraçar o capeta, você vai descobrir algo muito interessante: algumas cervejas são tão alcoólicas que não precisam de mais de dois ou três copos para fazer o estrago-cognitivo-almejado. Fica com a dica e esqueça que fui eu quem disse isso]

*carioquês malandro dos paranauê de camelô

5. O cervejês
Esqueça o “drinkability”, o “retrogosto”, “as nuances de maracaju da Polônia com final seco”. Se algum cervochato estiver à mesa e você não entender metade do que ele diz, ligue o fo**-se. Tome a sua cervejinha e se puder anote o que você sentiu mesmo se precisar definir a cerveja como gosto de “bacon”. Com o tempo, ao ler mais sobre o assunto, você vai poder fazer associações mais coerentes. E descobrir que o gosto de bacon, pode sim fazer sentido ao descrever, por exemplo, o sabor defumado de uma rauchbier.
6. Misturar tudo
Stout, Lager com Weizen. Vai com calma! Quando bebemos cerveja comum em eventos sociais é normal que um copo emende o outro em um ritmo frenético. Mas aqui o bacana é degustar com calma. Cada cerveja tem muita história pra contar, muitas nuances para descobrir. Sem pressa.
Se é pra beber desse jeito, daqui a pouco você não vai sentir diferença nenhuma e aí não vai ser nada inteligente pro seu bolso.

Getty Images | Marcus Richardson


7. Não importa o que você bebe, mas com quem você divide a mesa

É muito normal se empolgar e sair falando sobre o rótulo especial XYZ com seus amigos. E compartilhar a foto da cerveja que você tomou. E dar cerveja artesanal de presente. E falar sobre os diferentes estilos de cerveja que existem. E alertar que cerveja de massa leva arroz e…
… Seus amigos podem achar que agora você SÓ toma cerveja especial. (e ainda que seja verdade…)

Quando você prova os rótulos artesanais, o mundo das latinhas de Brahmol fica muito chato. Mas como nem todo mundo vai entrar nessa com você, não é por causa disso que você vai deixar de sair com o pessoal.

Contenha-se um pouco pra não virar um cervochato. Não tente evangelizar o mundo.
E se alguém vier com aquele papo de “fulano agora só toma cerveja com nome esquisito”, use o clichê de frase de Facebook: “Não importa o que você bebe, mas com quem você divide a mesa”.

Dá certo.
E mesmo que as latinhas de Brahmol passem longe de você no churrasco do Quinho, você acaba de confortar corações. 

8. Preconceito


Pode ser que alguns dos seus amigos não entendam o seu hobby. No Brasil, cervejas especiais são caras. Em alguns estados como no Rio de Janeiro, o preço é ainda mais desanimador. E voltando à história da quantidade x preço, nem todos vão querer embarcar nessa aventura com você. Pode rolar um preconceito de quem não entende. Mas e daí? Se você quer aprender, embarque de cabeça e copo à mão.

Outro tipo de preconceito é a forma como cerveja é tratada no Brasil. Até hoje me pergunto por que gostar, estudar e degustar vinhos é visto de uma forma mais positiva do que a mesma coisa no universo das cervejas. No meu caso, sendo mulher, a coisa ainda piora. Acredito que esse preconceito se deva à banalização das cervejas pelas grandes empresas e a forma como a mídia a vendeu por todos esses anos.

Felizmente, a profissão de sommelier de cervejas vem ganhando espaço proporcional ao crescimento acelerado do mercado. Já há cursos especializados para essa área com chancela internacional e acredito na quebra desse tabu gradativamente. A outra boa notícia fica por conta dos produtores brasileiros que vêm criando receitas que são verdadeiras obras de arte e ajudam a elevar #cervejadeverdade a outro patamar.

E você, já passou por alguma dificuldade?
Se identificou com alguma delas?

*Agradecimentos ao Anderson Senne e Leopoldo Souza pela discussão que me ajudou a construir esses tópicos.

11 comentários para “Cervejas artesanais: as 8 maiores dificuldades para começar a beber

  • Cervochato! Essa palavra nova é genial! rs
    Acredito sim que devemos pesquisar e estudar sobre a história da cerveja que vamos por à mesa, e consequentemente no copo.. Afinal não é qq cerveja, tem uma história a ser contada, seja ela antiga ou feita com ingredientes ainda nunca utilizados antes! É como ir a uma palestra ou a uma feira de alguma coisa, previamente devemos procurar ler ou saber algo sobre, para quando chegarmos no local, já estarmos por dentro do assunto, e não ficar tão "boiando" assim!
    Concordo com vc, quando se refere a diferença entre a imagem dos que apreciam cervejas e a imagem daqueles que apreciam vinho. Realmente são vistas de forma diferente. Acredito que a cerveja como é um produto mais acessível e aparentemente mais popular do que o vinho, seja mais facil fazer essa analogia.

    Parabêns pelo blog

  • Boas dicas! Fico feliz de perceber que estou no caminho certo. Comecei a beber cerveja a apenas 2 meses, por conta das artesanais, e estou gostando bastante. Obrigado pelas dicas e pelo blog que tem ajudado muito.

  • Excelente blog! Vou acompanhar. Sobre o troço todo dos "cervochatos", digo que eles sim cumprem um verdadeiro desserviço a este bom momento das artesanais: afastam possíveis interessados, diante dessa postura. Eu mesmo ando sem saco de frequentar CERTAS degustações, por conta de "viagens ególatras" diversas (muitas vezes prefiro fazer em casa)… Eu, que apenas inicio nesse mundão lupulado, digo: cansei dos "enochatos" faz tempo, mas não deixei de apreciar vinho, só não tenho mais saco nenhum para "chatos" (sejam cervos, alces ou bambis…rs). Abraços.

  • Esse termo "cervochato" (assim como o "enochato" para os amantes de vinhos) é muito perigoso. Realmente existem certas posturas desagradáveis, como por exemplo ir a um bar ou uma festa e ficar criticando a cerveja servida lá caso não seja especial/artesanal ou simplesmente da sua preferência, ou ainda ficar pagando de "sou mais foda que todos vocês" pelo simples fato de ter mais experiência com degustação de cervejas. Mas qualificar a pessoa como "chata" apenas pq ela possui uma gama de conhecimento maior e quer compartilhar isso com outros potenciais interessados, é não só injusto como também um desserviço à cultura cervejeira! Infelizmente, faz parte do modus-operandi social brasileiro não gostar de estudar e ter repulsa ao conhecimento, então quando alguém nos mostra que podemos ir mais além naquilo que sabemos, já criamos instantaneamente uma resistência e rotulamos o indivíduo como "chato", "inconveniente", "CDF", "mala", entre outros. Chamar alguém de "cervochato" por esse motivo é equivalente a chamar alguém de "cervopreguiçoso" pq não quer aprender mais. Particularmente, acho extremamente nociva essa postura, em qualquer que seja o meio!
    Desejo fortemente que os "cervochatos" continuem espalhando seu conhecimento por aí, desde que sem arrogância, pelo bem da cultura cervejeira.
    Cheers!

  • Carlos Henrique Faria says:

    Sabias palavras Amanda. Eu tive sorte de conhecer uma galera legal desde o inicio que me ensinaram muita coisa.
    Ah! Uma viagem a California ou a Europa ajuda muito também.. rs

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