Como foi o 2º Festival Carioca de Cerveja Artesanal

O 2º Festival Carioca de Cerveja Artesanal trouxe uma série de surpresas para o público por conta da ousadia dos produtores. O evento aconteceu no último final de semana, na sede do Clube Bola Preta (RJ) e passamos lá no 2º dia. Foi um sucesso de público, sem lugar para puristas. Para ter uma ideia, degustamos uma Witbier avermelhada feita com beterraba, uma Tripel Witbier, uma Imperial Stout com páprica defumada e pasmem, uma Saison com vodka e água de coco.

Fraga, 2Cabeças, Penedon BrewPub, Eisenbanh, Colorado, Botto Bier, Ceres, Allegra, Martin, Bierland, Saikt Gallen e Invicta marcaram presença, mas no evento da Acerva quem brilha obviamente são os produtores artesanais e suas experimentações (ao som de rock e petiscos do Ogrostronomia).

Provamos a witbier de beterraba do quarteto Marlos Monçores, Marcel Cunha, Luiz Bento e Rodrigo Magno. Eles uniram esforços para fazer uma receita diferente. “A ideia era fazer uma witbier vermelha – tipo sangue mesmo – e a beterraba foi o que mais atendeu ao que a gente queria, de forma natural, sem precisar usar nenhum tipo de corante. Tentamos através dos maltes, mas a beterraba foi o melhor resultado” explicou o Marcel Cunha. A cerveja é um pouco mais carbonatada que as wits normais, leva coentro quase não-percebido devido à beterraba e espuma levemente rosada. Quando perguntamos sobre o nome do grupo ou da futura cervejaria, os amigos disseram que ainda não decidiram, mas a Wit de beterraba já foi batizada: AB Positivo.

(esq) Luiz Bento, Marlos Monçores, Marcel Cunha e Rodrigo Magno

E por falar no Marlos Monçores, em parceria com Luiz Bento e Flavio Faccini, ele emplacou o 2º lugar com uma Ordinary Bitter, chamada PALEtó.

A Ordinary Bitter eu diria que não é um estilo que ligamos muito. Mas fizemos certinha dentro das especificações, sem nenhum defeito. E como não poderia deixar de ser, fugimos do tradicional. As pessoas geralmente usam lúpulos ingleses. Fizemos um blend de Alemães e Belgas para chegar no mesmo resultado. Trigo quase ninguém usa, e é difícil porque pode gerar muita espuma, o que seria indesejável pro estilo. Usamos a rapadura, aí chutamos o balde. Eu diria que nunca foi feito: ela contribui um pouco para cor e pro dulçor, e isso tem que ser descontado do malte inicial.” – explica Marlos.


Marlos também levou o 1º lugar do estilo livre com uma Black Anthrax, Imperial Stout extrema com café com 17,1% de ABV.

É uma Imperial Stout extrema com três ingredientes nacionais principais: Café, Rapadura e Melaço. Além de aproximadamente 700g de malte por Litro de cerveja, a adição de rapadura e melaço gradativa durante os primeiros dias de fermentação garante 17% de álcool na cerveja. Além dos 94 IBUs provenientes do lúpulo, um amargor extra foi adicionado pela técnica de “dry-coffee” usando café Mineiro 100% Arábica. Na maturação a cerveja recebeu ainda cubos de carvalho e extrato feito em casa de Baunilha em favas

Da  Black Anthrax surgiu a base para uma Porter de páprica. A “Dona Xêpa” é resultado da experimentação de acrescentar o condimento defumado no final. Uma cerveja muito saborosa. “Agora falta estabilizar a espuma que acredito ter reagido à páprica” – explicou o Marlos apontado para o copo que em pouco tempo tinha perdido a espuma. “Ainda estamos aperfeiçoando, mas está boa, né?“. E estava.

Além das receitas dos meninos, também me surpreendi com a Tripel Witbier do Vinícius Kfuri e Pedro Butelli  que incrivelmente conseguiu preservar as melhores qualidades dos dois estilo. O Vinícius emplacou um outra tripel, a Genoveva no 2º lugar do estilo livre.

Vinicius Kfuri e Rafael Oliveira recebendo o prêmio

Testei 4 fermentos diferentes para definir qual seria o mais propício a gerar o acetato de isoamila (banana), ganhou o trappista da Bio4. Com os outros: t58, wit e saison, fiz um blend com uma parte de cada e um dryhoping citrico. Foi um experimento, achei legal no final, mas bem diferente da tripel com banana e canela do concurso [Genoveva]. Podemos dizer que elas vieram da mesma ‘mãe’“, conta Vinicius.

(esq) Pedro Aliperti
e André Fortunato

Em 3º lugar no estilo livre foi para a Ghost White IPA do André Fortunato e do Pedro Aliperti que brassam desde 2010 pela Barro Bier: “A Ghost IPA é o resultado da mistura da leveza e frescor das cervejas belgas Wit com a pujança de amargor das tradicionais IPAs americanas. A adição de laranja da terra deu bastante citricidade à cerveja. Seu aroma é lupulado – graças ao dry hopping com Cascade, mas também é possível notar as características da cepa Belgian Wit. A Ghost é uma cerveja refrescante. Outra característica herdada do estilo Wit é a turbidez acentuada. Ela tem 6,1% ABV e 40 IBU“, explica o André muito feliz: “O festival é o evento do ano para nós cervejeiros. Compartilhar experiências, beber cervas de primeira feitas pelos amigos não tem preço. A comunidade cervejeira toda presente e confraternizando é simplesmente lindo!“.

A brincadeira do dia por conta do Bernardo Couto e sua Saison do Naldo, feita com adição de uma mistura de vodka e água de coco. Claro, que a receita nunca vai ser comercializada e isso é contra a própria definição de cerveja, mas como diz a música e a observação na chopeira “Pra mim tanto faz”. E pra fila que disputava a torneira também.




Miniaturas



Concursos do Festival
(se liga que é hora da revisão…)

O Festival teve dois concursos, um para eleger a melhor dentro o estilo Ordinary Bitter, pré-determinado para essa edição e outro para a melhor cerveja no estilo livre entre os produtores.

Confira os produtores e as cervejas vencedoras:

Estilo Ordinary Bitter
1° lugar Ordinária Amarga II do Rafael Oliveira;
2° lugar Paletó do Marlos Monçores, Luiz Bento e Flavio Faccini;
3° lugar Ordinary Duck do Afonso Dolabella.

Estilo Livre:
1° lugar Black Anthrax, Imperial Stout extrema com café, do Marlos Monçores;
2° lugar Genoveva uma Tripel brasileira com banana e canela, do Vinícius Kfuri e Pedro Butelli;
3° lugar Ghost Barro, White IPA com laranja da terra, do André Fortunato e Pedro Aliperti.

8 comentários para “Como foi o 2º Festival Carioca de Cerveja Artesanal

  • É, o festival tava muito bom, com cervejas muito interessantes e boas. Também fui no domingo e no meu ponto de vista o único porém da organização foi em relação à disponibilização e logística das cervejas. Não vi sinal dessa black anthrax, e a Penedon não tinha sequer stand no domingo. Eu queria tomar a Honey bock deles e fiquei na vontade…Ano que vem vou no primeiro dia porque a impressão que tive eh que o segundo dia tem menos variedade de cerveja.

  • Gugão, que bom que gostou do festival. Estamos trabalhando para melhora-lo a cada ano!

    Sobre a Black Anthrax, por se tratar de uma cerveja caseira, esta depende exclusivamente do cervejeiro leva-la ao festival.

    A falta geral de Penedon foi um caso atípico. Um grande sucesso que não teve como controlar. O Sergio Buzzi, cervejeiro da Penedon, estava lá comandando as torneiras que não paravam de jorrar. Tentamos trazer mais para o domingo, mas infelizmente não foi possível. Nem eu não consegui beber! =(

    No geral, as cervejas são limitadas e não tem ordem nem hora certa para estarem nas torneiras. O que é bom, de certa forma, pois quem for aos dois dias terá diferentes cervejas para experimentar.

    Bom, de uma coisa eu tenho certeza, cerveja boa não faltou.

    Amandinha, excelente postagem. Beijo!

    Até o III Festival!
    abs

  • Tb não consegui provar e olha que estava lá no sábado desde cedo. Gugão, é exatamente o que o Daniel respondeu. Somos cervejeiros caseiros, a maioria das cervejas eram exclusivas e foram enviadas em quantidades pequenas, 20 / 40 litros, esse é o espírito do Festival. Acho que a Black Anthrax nem foi levada.
    Adorei o texto sobre o Festival, é da Amanda? Não nos conhecemos pessoalmente.
    abçs
    Lu Tavares

  • Muito bom o post, ficou show. No sábado tava cheio, mas no ponto certo, sem tumulto. Eu achei sensacional o stand da Saikt Gallen em que o Gabriel por ter começado como cervejeiro caseiro fez questão de levar as cervejas da Saikt Gallen e umas 2 receitas que ainda está desenvolvendo. Decepção total foi com a Colorado que largou a chopeira num stand de assinatura de bebidas, e só saia espuma. Tanto que tinha uma tina enorme do lado que todos estavam jogaram fora. Uma pena que eu adoro a Apia.

  • Olá Marcel, tudo bom?

    Não sei se já nos conhecemos, meu nome é Rafael Moschetta, sou gerente de marketing da Cervejaria Colorado e infelizmente tenho que concordar com você. O espaço e estrutura destinados a Colorado pela organização do evento deixou muito a desejar em comparação ao nosso padrão de qualidade e ao carinho que sempre temos com os nossos consumidores nos eventos que organizamos.

    Neste caso entramos como apoiadores, enviando nossos produtos para promover a cultura da cerveja caseira e apoiar a Acerva Carioca, como sempre fizemos desde sua fundação. Não participamos da definição da estrutura e posicionamento do stand, isso ficou totalmente a cargo da organização do evento, que durante os dias tentou resolver o problema trocando mais de uma vez a choperia que estava sendo utilizada, infelizmente as outras também não funcionaram.
    Temos consciência e inclusive já conversamos com a organização de que muitos pontos devem ser melhorados, mas também reconhecemos que em outros tantos o evento foi muito bem organizado e divertido.

    Como tudo, precisamos aprender com os erros valorizar os acertos e continuar trabalhando pelo desenvolvimento da cultura cervejeira em geral, seja na estrutura dos eventos ou na qualidade das nossas cervejas, em panelinhas ou panelonas.

    Aproveito e o convido a vir conhecer a nossa fábrica e provar a sua querida Appia direto da fonte, será um prazer recebê-lo.

    Um grande brinde!

    Rafael Moschetta.

  • Gugão, sou o cervejeiro responsável pela Black Anthrax e só enviei p/ o concurso mesmo. Na época tinha poucas garrafas dela, suficiente apenas para serem avaliadas no concurso. Mas acabo de concluir o envase de um novo lote!
    😉
    Marlos Moncores
    Marlos

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