Dia 8 de março: um dia sem assunto

Por Amanda Henriques
Com o dia 8 de março se aproximando me dei conta da
necessidade de escrever um post em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Em
um primeiro momento foi algo tão inconsciente (“A Maria Cevada precisa
ter um post para o Dia das Mulheres, como não?
”) que coloquei a tarefa no
to-do list imediatamente e comecei a pensar nos temas…
Pensei em falar com orgulho sobre as mulheres que fazem
bonito no cenário cervejeiro: a Tatiana Spogis que trouxe para o Brasil o
bronze no campeonato internacional de sommeliers, a Maíra Kimura que ao lado do
Bernardo Couto e do Salo Maldonado faz bonito com as receitas da 2Cabeças para o orgulho
dos cariocas, ou da Fernanda Fregonesi do Yeast Facts, a musa ruiva das
leveduras ou a…
Ei, espera.
São muitas. Somos muitas nesse mundo cervejeiro. Criar uma
lista delas é garantir a injustiça de esquecer fatalmente alguém e tão estranho
quanto levantar uma lista dos cervejeiros [homens] de destaque simplesmente por
uma questão de gênero (já imaginou a loucura?). Eles e elas têm igual competência e responsabilidade na disseminação do mercado de cervejas
artesanais no Brasil.
Assunto descartado, chegou a passar pela minha cabeça falar
sobre o preconceito com as mulheres no mundo da cerveja. Bastava pensar em um
caso que tivesse acontecido comigo para que a matéria saísse. E então lembrei
dos meus companheiros Blogueiros Brasileiros de Cerveja e me dei conta que…
Sempre fui tratada com incrível respeito e igualdade. Nunca fui excluída por
ser mulher e o que considero mais importante: fui criticada quando preciso como
qualquer um.
Lembrei de alguns eventos cervejeiros em que os entrevistados
passavam a conversar com o Anderson Senne achando que ele era o responsável pelo
site, mas nada que no decorrer da conversa não fosse  esclarecido e virado motivo de brincadeira e
mais assunto. Lembrei de um outro dia em que um garçom em Porto Alegre disse
que eu não era da região pois “mulher não toma IPA”, uma provocação feita rindo
que nem de longe levei a sério. Botei na conta do meu sotaque e mandei trazer
logo a Green Cow.
Ou seja, nada relevante que me fizesse ter algo para
escrever sobre isso.
Ok, então me resta falar da própria Maria Cevada, um blog
que é legitimamente… Um blog de cervejas artesanais e só. Nunca tive o
objetivo de trazer a temática feminina para os assuntos abordados aqui. A logo
é propositalmente fofa, o nome a apropriação de um termo geralmente pejorativo
para mulheres… Tudo para quebrar tabu. Mas o conteúdo é geral e o público não parece ter o menor problema com os elementos femininos do site: 66% das pessoas que leem a Maria Cevada são homens.

Uma vez, meu amigo Márcio Beck do A volta ao mundo em 700 Cervejas perguntou por que eu não explorava o potencial
do nome do blog para falar das mulheres nesse mercado. Mas depois de refletir sobre o assunto, mesmo com
boa intenção, minha tentativa de mostrar o quão comum é encontrar mulheres
nesse ramo faria com que eu replicasse justamente o ato que mais odeio:
segmentar por gênero. Um verdadeiro atraso para tudo que as moças já realizaram
como estudiosas, produtoras, vendedoras, sommeliers e produtoras
de conteúdo relacionados às cervejas.

O lugar das mulheres já foi conquistado em meio a lúpulos e
maltes. E ponto.
Esse assunto é para virar a página e parar de tratar como excepcional. É
padrão.
Risquei a tarefa do meu to-do list. Posso esquecer
esse assunto com a felicidade de fazer parte do mundo das cervejas artesanais e
ficar tranquila por não ter uma matéria para o dia de hoje.
Ei, espera.

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