Isoporzinho, isoporzaço

Insatisfeitos com o preço das cervejas em bares do Rio, jovens decidem levar isopores para as ruas


Por Amanda Henriques

Nessa semana uma novidade gerou furor nas redes sociais e ganhou a simpatia de muitos. Insatisfeitos com os preços cobrados nos bares do Rio, um grupo de cariocas decidiu levar o “isoporzinho” para a rua e beber a noite toda sem pagar altos preços pelas bebidas ou couvert artístico.

A reunião despretensiosa chamou a atenção do jornal O Globo. Em entrevista para o Gente Boa, Guigga Tomaz virou porta voz do movimento: “não é ato político, nem manifestação, é só uma forma de beber com os amigos sem ter que vender um rim para pagar”, brinca.

Matéria O Globo

Movimento ou não, a coisa já ganhou proporções absurdas: “beber de isoporzinho” está virando mania na cidade: já existem eventos marcados no Facebook (a maioria com mais de 1000 pessoas confirmadas) em praças e points do Méier a Niterói e até mesmo em outros estados. 

O Rio está inflacionado. E de um jeito espontâneo, a população acaba de responder ao abuso de preços.

O outro lado

Muitos dos compartilhamentos da notícia sobre o “isoporzinho” foram acompanhados de discursos contra o preço abusivo cobrado pelos donos dos bares cariocas. Mas eles são os reais culpados?

O preço da cerveja para o consumidor final está alto, mas não pode ser analisado isoladamente. Cerveja no Brasil (e principalmente no Rio de Janeiro) é um produto carregado de impostos: chegam a 60% sobre o produto que, somado aos altos preços pelos aluguéis/imóveis, pressionam o comerciante a repassar o impacto.

Foto: Etilicos/Google
Para as artesanais não é diferente: para produtores as taxas de importação dos insumos dificultam as inovações. Para consumidores e comerciantes, o ICMS interno carioca é um dos maiores do país. E quanto às artesanais gringas? Além do frete, caem sobre as cervejas artesanais a taxa de importação, o IPI,  o ICMS e o PIS/Cofins. Para piorar os impostos incidem uns sobre os outros e não sobre o valor original do produto.  (artigo completo sobre essa cascata tributária no 700 cervejas)
O algoz não está atrás do balcão. Apenas depois de considerarmos essa questão tributária podemos afirmar se os preços dos bares são abusivos ou não com relação à margem de lucro que o comerciante impõe.

8 comentários para “Isoporzinho, isoporzaço

  • Lógico que a tributação, em determinados casos, beira a irracionalidade, mas cravar que o algoz não está atrás do balcão é ingenuidade. A long neck comprada no mercado a R$ 2,50 e comprada no bar da moda a R$ 10 tem a mesma incidência de carga tributária quando adquirida por quem vende. O que existe sim é uma ganância generalizada que faz com que cada um dos membros da cadeia queira ter lucros mais astronômicos do que outros. Aluguéis nas alturas, salários dos trabalhadores de bares está subindo (o que é bom), margens leoninas dos donos de bares sobre os produtos vendidos. Até o preço do gelo dispara justamente na época de maior demanda. Todo mundo quer ganhar muito e muito rápido, o que faz com que pessoas inteligentes iniciem movimentos como estes aí. Resposta perfeita e de acordo com as leis do livre mercado.

  • O problema é que os donos de bares estão aumentando absurdamente os preços por causa da Copa. Pra ninguém dizer que o preço subiu só por causa da Copa, estão aumentando desde já. E aí o povo se ferra.

  • Francisco Nogueira, desculpe discordar da sua lógica de que querem ganhar muito e muito rápido. Seu racional de que os impostos pagos são os mesmos independente de onde são compradas é inválido. Supermercados compram as cervejas por valores consideravelmente mais baixos que os donos de bar. O ICMS ST incide sobre o valor da NF da fábrica, que vende para os supermercados por valor inferior ao vendido aos bares. Vende então para seus distribuidores que atendem grande parte dos bares. Acredite, uma cerveja que vc paga R$ 2,50 no mercado é vendida ao bar por, não menos, de R$ 4,00. Não vou justificar altos preços das cervejas de massa, pois essas são ainda piores em termos de disparidade. Você pode chamar de "ganância generalizada" o fato de um dono de bar aplicar 2,5 de mark-up, mas se informe um pouco melhor sobre os lucros astrônomicos. Você só achou a ponta do iceberg qndo mencionou as altas nos custos do bar, mas ignora: 1) 50% das vendas em bares são à prazo – Cartões de crédito comem pelo menos 3,5% do faturmento bruto, não obstante também demoram 30 dias para entrar em conta. Já pagaste juros do cheque especial, meu caro? Sabes que são altos, correto?; 2) os impostos sobre lucratividade outros 12%; 3) o 10% é retirado integralmente sobre o faturamento, ou seja, se vc não paga, o bar paga. Ademais, como os descontos no cartão de crédito são em cima do faturamento, comem uma parte do 10% também. Posso discorrer sobre os custos ainda mais, mas acho que se você acha uma reposta perfeita, parabéns. Você está cobrando e respondendo das/às pessoas erradas. Cobre do seu governo a desoneração da folha salarial, cobre a redução dos impostos e a livre iniciativa, cobre que seja possível fazer algum negócio no Rio de Janeiro sem incorrer em gastos monstruosos. Blz?

  • Salo, vc esta fazendo a clássica' apologia do comerciante coitadinho'. Se a cerveja que o mercado pags 2,50 eh vendida ao dono de bar a 4,00, e só ele ir a uma rede atacadista como Makro ou Assaí e comprar lá. As margem de lucro aumentariam bastante. Os imposto não dobraram da noite pro dia, a conta não fecha. Só aluguel tbm não justifica.eu fui ao botequim do itahy em Jacarepaguá e me cobraram 14 reais por um suco de abacaxi q pedi sem olhar o preço. O que explica tamanho disparate?!

  • Gugão, não é apologia. Eu sei os custos que estão envolvidos com o negócio cerveja. Se você conhece algum dono de bar que tem tempo de ir ao Supermercado ou que os seus funcionários o façam, blz. Conheço poucos donos de bar que compram e transportam os insumos que consomem. Para ser sincero, acho 14 reais por um suco de abacaxi caro, mas não sei se é injustificável. Qual conta não fecha, meu caro? Apresentei 3 custos que consumidores não levam em consideração ou ignoram. Não mostrei custos de aluguel aqui. Você conhece a estrutura financeira de um bar? Se sim, mostra pra mim? Você certamente já ouviu falar de luvas, né? Sabias que alguns proprietários cobram luvas em renovações de contratos de aluguel? Imagino que não, né? Voltando às cervejas: Você realemente acha que 1,50 aumenta a rentabilidade por unidade? Qual volume estamos falando, meu caro? Desculpe, mas sua defesa não apresentou nenhum argumento. Se vc está ofendido, deixe de ir aos lugares. Muita gente acha absurdo pagar R$ 10,00 na Long neck, mas bate ponto no lugar… Explica isso pra mim, pois minha cabeça apologética de coitadinho não entendeu.

  • Se o camarada não tem tempo/ interesse de ir a um mercado comprar mais barato, que banque o ônus de aumentar o preço e perder clientela. Luvas pra renovar pra mim eh novidade. Mas se o sujeito paga as luvas eh porque dá lucro. Se não dá pra pagar, troca de ponto. O fato eh esse mesmo: Nunca mais voltei no itahy. Por sinal as cervejas especiais lá custam sempre o dobro ou mais do que uma quente. Tem um outro bar aqui em Jacarepaguá que tem margens de 10 ou 20% nas cervejas especiais geladas. Eh o Beer & Bier. Como eles conseguem sobreviver eu não sei mas passei a comprar la. Solução, tem.

  • você falou sério? Então só o imposto é responsável pela variação de preços? O valor do aluguel no bar da moda e no mercado são os mesmos? A quantidade de funcionários? Pegar a bebida no freezer ou ser servido? Ar condicionado? Limpeza? Criminalidade? Rouba a caneca do bar pra levar pra casa? Poderia ficar o resto da vida falando sobre o que pode afetar os preços, mas não adiantaria, já que a comunicação precisa de um interlocutor indivíduo e não apenas alguém que repete o que escuta na rua/tv/bbb

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